segunda-feira, 16 de novembro de 2015

grandiosidade na pequenez




Dos desvios, peguei carona
Às vezes, quem desviava era eu (eu sei)
N'alguma hora, peguei atalho
Noutra, atentei-me a cada detalhe
Tropecei em algum rastro de sonho
Mas recolhi os vestígios,
E em meu colo os embalei
Se devia ou não podia
Pouco importa, não hesitei

Acho que a vida é amiúde, gestos da hora,
Do aqui e do agora
É plataforma simples,
E em cada vagão há espaço para os arrependidos
Em prece ou ceticismo,
De todos é abrigo

Na lata do lixo tem pão velho,
Sobre o qual desfila um gato-magro-persa
O senhor no qual se evidencia a canela,
Ainda divide a janta ao som do estômago em roncos, em vão
Não faz sentido
O mundo é grande, belo e podre, forte e frágil
Gigante pela própria natureza diante do velho, do gato
Diante do universo, fagulha, farelo de pão barato

Une o verso,
Vira do avesso: veja, eu peço
Tudo perde a medida e fica importante se ganha título
Mas que tolo ruído!
A estrela já é passado quando aos olhos chega
Tudo se julga, algo se explica, outro tanto se aplica, e muito se ajeita

Não engravate o seu umbigo
Há muito mais a se varrer diante do tempo já varrido
Olha pro lado e revigora
Antes ser já do que outrora
Sê raiz, mas voa
Barco sem âncora arrisca perder a proa
.

(eu, em algum dia de novembro de 2014)

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

preparados para amar. Será?




É difícil amar despretensiosamente.
É difícil doar-se ao outro tal qual a entrega ocorra livre de expectativas e de algum interesse.
Não que, para amar, seja necessário negar ou anular a nós mesmos. Não que seja uma moeda de troca; Mas, amar "de graça" requer muitos tipos de desapego... E eu questiono se somos maduros para isso.

domingo, 17 de agosto de 2014

Da cadeira na calçada

Na 'minha' cidade, as pessoas põem a cadeira em frente à calçada de suas casas para assistir a alguns capítulos de uma novela chamada Vida. Não nego ter observado, também, que são os mais velhos a praticarem esse tipo de exercício. Nunca o pratiquei. Mas, admirei o gesto. Achei melhor não antecipar rugas, e não ocupei meus pensamentos julgando o que de mais 'útil' os senhores de suas cadeiras poderiam estar fazendo. Parei para admirar a paz que pode haver na cadeira da calçada. Esta não é uma cidade badalada, as ruas mais movimentadas são poucas, mas, no trecho de cada rua existe poesia. Fiquei pensando no quanto os mais velhos podem estar curtindo o seu momento de telespectador. Pensei que pode-se ter criado o gosto por pegar um pouco da vida do outro emprestado. Como se assistir e respirar alguns trechos da vida que passa (para todos) fornecesse uma dosagem de ar com um tanto a mais de oxigênio... Como se o fato de respirar e olhar tocasse a alma com um sabor diferenciado.
Não os julguei inválidos, tampouco inúteis... Não tirei o mérito da canseira, a reconheci. 
Assim, admirei a sutileza da ousadia - arrastar a cadeira das mesas em direção à calçada, assistir a novela da rua da Vida, no Jardim Sem Pressa, número 100 (preocupação).

E também foi assim que passei a enxergar mais sentido em Quintana, quando "eles passarão, eu passarinho"...

domingo, 6 de abril de 2014

Nessa Copa, vai torcer para o Brasil?

Vou, claro. Vou torcer para que a Violência não veja, nesse espaço marcado no calendário da História, uma oportunidade para dar o seu pior show; Vou torcer para o Brasil valorizar a Educação, a ética, a solidariedade, a honestidade.
E por falar em honestidade, honestamente, não faz a menor diferença, para meu o "orgulho de ser brasileira", ver o Brasil ganhando ou não essa Copa. Gosto do futebol, sou amplamente a favor do esporte e também amo muitas coisas que compõem esse país, mas me entristece e decepciona ver o modo como muita coisa é construída - nos moldes de um castelo de areia, pronto pra desmoronar.
Dói reconhecer como, por vezes, tanta sujeira não me surpreende mais. Tem sido parte do cidadão brasileiro esse sentimento de "ah, vá?! É o Brasil, né?". Isso é muito triste: perdemos a fé, a crença, a expectativa de ver melhoras.
Não gosto disso.
Seria bom se começássemos a alimentar menos a fogueira na qual tanto tem queimado a nossa bandeira de "Ordem e Progresso". É difícil acreditar... e como é! Eu sei. Mas, eu vou continuar acreditando, começando por mim mesma, e por muitos que vejo trabalhando duro nessa luta diária de fazer vingar o bem, de fazer crescer a paz.




A segunda parte é um repasse. Ouvi e li algumas vezes.
Fica pra quem não conhece, e pra quem conhece também:

Só de sacanagem, Elisa Lucinda

Meu coração está aos pulos! Quantas vezes minha esperança será posta a prova? Por quantas provas terá ela que passar?
Tudo isso que está aí no ar: malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro. Do meu dinheiro, do nosso dinheiro que reservamos duramente pra educar os meninos mais pobres que nós, pra cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais. Esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais. Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta a prova? Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais? É certo que tempos difíceis existem pra aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz. Meu coração tá no escuro. A luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e todos os justos que os precederam. 'Não roubarás!', 'Devolva o lápis do coleguinha', 'Esse apontador não é seu, minha filha'. Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar! Até habeas corpus preventiva, coisa da qual nunca tinha visto falar, sobre o qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará! Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear! Mais honesta ainda eu vou ficar! Só de sacanagem!Dirão: 'Deixe de ser boba! Desde Cabral que aqui todo mundo rouba!E eu vou dizer: 'Não importa! Será esse o meu carnaval! Vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos.' Vamo pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo, a gente consegue ser livre, ético e o escambal.Dirão: 'É inútil! Todo mundo aqui é corrupto desde o primeiro homem que veio de Portugal!'E eu direi: 'Não admito! Minha esperança é imortal, ouviram? Imortal!'Sei que não dá pra mudar o começo, mas, se a gente quiser, vai dar pra mudar o final!

domingo, 9 de fevereiro de 2014

no dia 01/12/2012, escrevi isso, e... por alguma razão, guardei:

Hoje, enquanto passava de carro por uma rua razoavelmente movimentada, em minha cidade, quase de frente comigo havia uma mulher. Essa mulher estava vestida com uma blusa e saia brancas, cabelos emaranhados, pés descalços, e olhar perdido assim como ela, que andava pela rua como se andasse pela areia de uma praia. Eram os carros que estavam se esforçando para desviar dela. A mulher não demonstrou a menor preocupação ou medo diante do que pudesse lhe atingir. Pensei. Pensei... Como pode uma criatura chegar a esse ponto? Ninguém quis ajudá-la? Ou será que foi ela quem não aceitou ajuda e os outros desistiram? Abandonaram-na? Ou ela abandonou os "seus"? De todas essas dúvidas, a maior certeza era a pior - Ela SE abandonou. Abandonou-se de si mesma.
Senti uma vontade estranha de parar o carro e conversar. Mas não conversar para oferecer ajuda, porque eu nem me sinto capaz de dar ou devolver tudo o que ela precisa. De qualquer forma, senti vontade de ouvi-la, de pedir a ela para que falasse o que sentisse. Quanta impotência da minha parte. Quantas dúvidas...
Não pude parar. Precisava levar minha mãe a um local com hora marcada. Não cheguei a dizer muito a respeito, apenas disse "meu Deus! que judiação". Minha mãe chegou a responder parte de minha dúvidas -  Pessoas de alguma instituição da cidade tentaram ajudar aquela mulher, mas ela voltara para rua mais de uma vez. A voz em minha cabeça gritou: POR QUÊ????????
Como deve ser horrível estar no mundo e não ver mais graça em pertencê-lo. Que solidão terrível deve ser esta de estar indiferente em relação ao mundo. Parece que, para aquela mulher, se o mundo acabasse naquele segundo ou, se em um passe de mágica, alguém aparecesse e dissesse que a vida de nossos corpos aqui na Terra passaria a ser eterna a partir de agora, daria na mesma.
Vi que a mulher de branco estava viva, mas tão morta, com olhos tão mecânicos e cansados de olhar, incapazes de admirar qualquer coisa... doeu.

pior que vergonha alheia, talvez seja a dor alheia...

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Oi, tudo bem?


"Oi, tudo bem?"

(como é horrível ser atriz quando tudo vai mal) Abro um sorriso, e respondo:

"Tudo, e você?"

"Tudo bem, também"

(será que el@ tá bem, mesmo? Parece estar. Mas, foi encenação ou verdade? ...E eu? Escondi devidamente a minha tristeza, meus medos e minhas dores?)

Do passar das horas, das entregas que não queremos fazer por aí...
Eu sempre pensei que meus sentimentos não são do tipo "fast food" - não estão aí, sempre à pronta entrega ao primeiro que ligar. Há dias que me pedem para ser calabresa com muita cebola, mas eu só quero ser mussarela, com uma pitadinha de orégano por cima, e olhe lá!
Não estou vivendo o que não sou, mas estou me poupando de desabar publicamente. Gosto de dar chances a mim mesma, às tantas oportunidades de sorrir (apesar do caos) que estão à minha volta. Gosto de esquecer que estou triste.
Inicialmente, eu dizia como é horrível "ser atriz". Será tão horrível? Faz parte. Acho legítimo isso de conseguir sorrir, chorando por dentro. Além das defesas, algo "ali dentro" vibra e nos mostra fagulhas de luz. Novos enredos, mesmices singulares, deliciosas maneiras de se renovar. (ou não... mas toda tentativa vale!)
Eu me rendo à mim mesma. Viver a mesma coisa em dias diferentes muda tudo. Aproveito e faço bom uso. Vou chorar e ouvir meus vazios quando me deitar. Vou desabafar outro dia, num ombro que talvez tenha percebido meu vacilo no "tudo bem (uma ova!)".
Não! Não estou à espera de um flagra. Isso é chato demais. Estou, apenas, permitindo viver minhas fraquezas no tempo que me resta comigo mesma, tentando descobrir as origens de tudo.
É difícil falar quando nem mesmo sabemos por onde começar, quando nem mesmo sabemos quando começou.
A parte boa, em mim, é isso: saboreio minha tristeza. Acompanho meus silêncios, minhas fugas, meus gritos, minhas buscas, meus limites.
Recomeço, reconheço.

Às vezes, dá pra ser meia mussarela/meia calabresa... e depois a gente vê o que faz com as sobras - se guarda na geladeira, ou leva pra mais uma viagem.

"Oi, tudo bem?"

"(não tá) tudo bem (mas, logo vai ficar...)"


com alma, calma.



também não deve ser à toa que a palavra alma more dentro da cALMA e, assim, calma abrigue alma.
ou, então.. talvez, seja só um acidente sonoro que, com repetição, uniu o que sempre precisou estar junto "com alma, com alma... c'alma, calma".